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Uma visão sanitária sobre o tratamento das piscinas

Cleverson Ferreira Pinto é Técnico químico, farmacêutico-bioquímico (pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas) com pós-graduação em Engenharia de Controle da Poluição Ambiental, e, na condição de consultor químico, trabalha direcionando procedimentos dentro do tratamento físico-químico da água, no treinamento dos piscineiros e na orientação sanitária do Clube Jundiaiense. Confira algumas orientações e explicações sobre o tratamento das piscinas do ponto de vista de um profissional da área.

Clube Jundiaiense – Há quanto tempo está desenvolvendo esse trabalho no Clube?
Cleverson – Há sete meses. Venho analisando as questões necessárias, conversei com alguns departamentos que direta ou indiretamente podem afetar nosso trabalho, porém estou ligado ao departamento operacional. Auxilio na análise e tratamento da piscina da sede central, das piscinas da academia e do conjunto aquático.

Esse trabalho não envolve tratar água como fim, pois existem outros setores que se não estiverem em consonância prejudicam o desempenho do tratamento adequado. Já fiz uma palestra com os piscineiros, professores da academia, quanto a estes, visando envolvê-los no processo através da conscientização e com isso mostrar que são corresponsáveis pelo tratamento, visto que ficam mais tempo na água e têm contato direto com o aluno. Fizemos reuniões com os responsáveis pela limpeza das áreas das piscinas com o objetivo de individualizar materiais e com isso restringir seu uso somente para a área de interesse, evitando o uso coletivo e possíveis contaminações. A ideia foi conscientizá-los e mostrar para todos o quanto estão envolvidos no processo.

CJ – Qual é a periodicidade do tratamento?
C – Existe uma equipe de piscineiros que são funcionários contratados pelo Clube, os quais atuam diariamente, e trabalham por escalas fazendo leitura de cloro ativo, cloro total, ph, alcalinidade e dureza, como também realizando as correções que se fizerem necessárias a partir da nossa orientação. Existe um laboratório contratado pelo Clube, creditado pela Vigilância Sanitária, para fazer a análise de água com base na legislação em vigor, e os parâmetros analisados são contagem de bactérias heterotróficas, coliformes totais e coliformes termotolerantes; por outro lado, a cada seis meses, atendendo a própria legislação, é realizada a pesquisa de amebas de vida livre, algas e leveduras. A análise é feita para auditar o tratamento, e funciona como uma radiografia do que é feito pelos piscineiros. Qualquer oscilação que der, principalmente quanto ao cloro, haverá um crescimento bacteriano, e a partir daí consigo avaliar e atuar em cima da situação, intervindo com o departamento operacional. Importante salientar que nossa postura é preventiva, portanto o que almejamos é trabalhar de forma que os resultados das análises venham dentro da conformidade.

O fundamental é medir o cloro, porque é um oxidante e irá oxidar a matéria orgânica e inorgânica presente na água. Vou dizer algo que pode chocar no primeiro momento, mas a maior fonte de contaminação da água é o próprio usuário, porque, se não tomar uma ducha antes de entrar na piscina (principalmente se for aquecida), ele vai sair dela higienizado (haverá a limpeza da região anal, perianal, genital, ouvidos…), o que irá de certa forma “contaminar” a água.

CJ – Qual é a sua orientação para que o usuário contribua?
C – Preferencialmente, seria ideal que o usuário tomasse um banho antes de utilizar a piscina, porém esse protocolo não faz parte da nossa cultura e o que temos são as duchas e lava-pés, que apresentam uma concentração de cloro superior a 10 ppm, cuja água precisa ser trocada duas vezes ao dia; ambos amenizam muito o contato do usuário com a água da piscina.

O usuário precisa perceber (e acredito que muitos tenham essa consciência) que isso é bom para ele, não contra ele. A direção do Clube, preocupada com esse aspecto, nos contratou, exatamente para manter a qualidade da água de forma que os associados e seus filhos entrem nas piscinas e saiam sem se preocupar, porém torna-se necessário que usem a ducha e passem pelo lava-pés.

CJ – Quanto a alergias, é possível que o cloro cause algum tipo de reação alérgica?
C – Nesse contexto, pode ser um erro operacional como também algo individual. Atuo em diversos Clubes há algum tempo, e o meu olhar enquanto profissional quando recebo uma queixa é em primeiro lugar avaliar se existe mais alguém se queixando (avaliando o coletivo). Isso não significa que eu vou desvalorizar a queixa individual, mas tenho que pensar no coletivo para avaliar se o problema é de fato operacional ou individual.

Se não houver, estatisticamente, um número de queixas significativas, eu posso pensar que de fato é algo pontual e o organismo da pessoa pode estar desenvolvendo um processo alérgico à química utilizada na água. É importante que saibamos desses relatos para acessarmos nossos registros (que são feitos diariamente) e com isso rastrearmos uma possível alteração, embora a análise seja constante.
Outro ponto importante é procurar saber se o usuário está ou esteve fazendo uso de medicamentos que podem ter como efeito adverso reações alérgicas, então temos que ter muito cuidado, porém sempre valorizar a queixa individual e a partir desta avaliar o coletivo.

CJ – Diariamente existe uma análise da água, conforme citado anteriormente. O que é feito depois dessa análise?
C – De acordo com a leitura e entendimento das análises, eu direciono os ajustes caso se façam necessários e treino as equipes para as devidas correções com os produtos específicos. O Clube vem com uma política de automação em que possivelmente colocaremos equipamentos que, uma vez ajustados, sozinhos façam as dosagens, mantendo as leituras periódicas e ajustando se necessário.

Em primeiro lugar, o que é fundamental é a realização do exame médico, porque muitas vezes pode haver um problema que não foi percebido, e o médico poderá detectar. Em segundo, é a necessidade (insisto nisso) de tomar uma ducha antes de entrar na piscina. Em terceiro, não utilizar cremes antes de entrar na água, porque atrapalham seu tratamento. Creme é um componente, dentre outros, que contribui com o desequilíbrio químico da água, que passa a não ter o rendimento necessário para que o cloro faça seu devido efeito. O cloro não raciocina, entrou creme, urina etc., irá oxidar tudo.

CJ – Em relação ao protetor solar, ele pode atrapalhar a química da água?
C – Existem no mercado protetores solares que não saem da pele em contato com a água, não são hidrossolúveis e podem ser utilizados sem problemas. O ideal mesmo é não permanecer no sol das 10h às 16h, devido à grande incidência de raios ultravioleta.

CJ – Qual seria a diferença nas reações químicas de uma piscina não aquecida para uma aquecida?
C – Quimicamente, a temperatura é um catalisador, tudo na piscina aquecida acontece mais rápido porque a temperatura elevada acelera a reação química. O usuário fica por volta de uma hora dentro da água, e no caso da piscina aquecida existe dilatação de poros, a pele fi ca um pouco mais
flácida e está sujeita a uma alta infestação (estabelecimento, proliferação e ação de parasitos na pele ou em seus apêndices).

Se a piscina estiver clorada não há com que se preocupar, mas é importante que o associado saiba entender as orientações e agir de acordo com elas; são posturas que atuam para o seu próprio bem, fugir disso só o prejudica.

CJ – Que tipos de doenças podem ser transmitidas pelo uso comunitário da piscina?
C – Se a piscina estiver clorada dificilmente acontecerão problemas de transmissão hídrica, os maiores problemas acontecem no vestiário. Por isso, uma das primeiras coisas que procurei verifi car aqui foi como é feita a limpeza do vestiário e propor a separação do material, ou seja, o que é
utilizado para limpar a área da piscina só pode ser utilizado lá, assim como o vestiário (principalmente panos e rodos). Essa é uma das visões sanitárias quando olhamos a piscina, não vejo só a água, mas uma série de outras coisas.

CJ – Gostaria de dar mais alguma orientação?
C – Seria ideal que todos usassem a touca e óculos, para proteger os olhos. Outro ponto interessante é o uso de sandálias de borracha (chinelos), porque não é aconselhável andar descalço no entorno da piscina, não dá para conhecer os hábitos de higiene de todos, apesar da limpeza realizada periodicamente.

CJ – Poderia citar algumas mudanças realizadas no tratamento desde sua entrada?
C – Se eu não tenho o equilíbrio químico (alcalinidade, cloro, ph e dureza cálcica) terei queda de rendimento químico.

Na piscina semiolímpica, foi mudado o cloro usado, de líquido para granulado, que têm uma diferença entre si. O líquido perde potência com o passar do tempo, já comprovado por meio de análises (existe uma curva de degradação do cloro), o que é um comportamento químico do produto. O
granulado sem umidade chega a durar dois anos (embalado), o que é vantajoso. Até seu manuseio é mais prático.

Outras orientações
• Outro ponto foi a alteração na forma de limpeza da área comum da piscina, procurando deixar materiais exclusivos para cada área.
• Alteração dos reagentes (Kits) para medir os parâmetros do cloro, PH, alcalinidade e dureza.
• Tentativa de conscientizar professores da sua corresponsabilidade no tratamento da água.
• Foi orientado como tratar a areia do playground, visto que gatos fazem um buraco na terra, defecam e logo em seguida cobrem com a terra e isso fica, podendo levar à toxoplasmose. Esse tratamento visa neutralizar isto.

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