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A batida que toca o coração

Como toda orquestra, as baterias de escolas de samba também possuem o seu maestro, que no caso é o mestre de bateria. Ele cuida da regência, posicionando os instrumentistas e garantindo a harmonia certa. Entrevistamos o mestre da bateria Azul e Branco, Sérgio Marino, que, ao lado de aproximadamente 50 associados ritmistas, agita e alegra as festas de Carnaval do Clube!

Revista Clube – Desde quando é associado do Clube?

Sérgio – Sou associado desde que nasci. Meu pai era sócio e já nasci sendo, porque desde pequeno venho ao Clube. Lembro-me das pescarias no Lago, da piscina oval, das duas piscinas pequenas e da chuva (porque sempre que vinha estava chovendo, não sei por quê, risos). Pescávamos e nadávamos na chuva, o que marcou a minha infância. Eu já tinha uma certa autonomia, era muito criança mas vinha sozinho de ônibus, com uns dez anos. Sempre morei no bairro Pitangueiras e pegávamos um ônibus que ia pra Vinhedo.

RC – Como associado, o que mais aproveita no Clube? Pratica esporte?

S – O que mais aproveito é a academia, as churrasqueiras e a bateria Azul e Branco. Eu já joguei futebol, participei de vários campeonatos, joguei tênis, squash. Participei também dos eventos sociais, mas hoje, devido à minha logística, minha vida é a academia e a bateria mesmo..

RC – Qual é a história da criação da Bateria Azul e Branco?

S – O Clube já teve outras versões da bateria, lá nos anos 80, em que eu tocava. Toquei uns dois anos cerca de vinte e cinco anos atrás. Na adolescência e começo da juventude, a gente frequentava os bailes de Carnaval e montava os blocos, nos bailes de marchinha que estão tentando resgatar. Participei quando criança das matinês e depois, adolescente, já comecei a ir aos bailes noturnos na sede central.

Toquei com as escolas de samba e no Carnaval sempre fui presente, depois teve uma época em que minha vida mudou um pouco e o Carnaval também, então me afastei desse cenário e aproveitava os feriados para viajar. Quando era criança, morando na Vila Arens, frequentava o Clube
Atlético Pitangueiras, onde havia uma escola de samba muito tradicional – os desfi les aconteciam na rua Barão de Jundiaí – e quem conduzia a bateria na época era um associado muito conhecido dos antigos, o Américo Sallas (In memoriam), que morou onde hoje é a Casa do Lago, e o fi lho dele, o João, meu grande amigo, também estava nesse cenário do Pitangueiras, assim como outros associados ilustres, como Xisté, seu irmão e seu pai. Outra pessoa que gostaria de lembrar é do Betão Zorzi, que nos deixou há pouco tempo e fazia parte desses encontros da escola de samba.

A primeira vez que saí tocando tinha 12 anos de idade, tocava contra surdo. Sempre gostei de percussão, o meu estilo musical é rock’n’roll e MPB, mas gosto de samba também, o contato com a música sempre existiu. Na época da faculdade, engenharia civil em Itatiba, toquei em uma escola de samba da cidade; Depois me afastei, até que comecei a ter vontade de tocar de novo – cheguei a comentar com a minha esposa, e foi quando o Xisté teve a ideia e lançou o primeiro evento da bateria em sua gestão. A primeira versão mais recente teve como mestre o Tadeu, éramos em doze pessoas mais ou menos, e na segunda versão o grupo se ampliou um pouco, depois recebi o convite para ser mestre. Por tocar um instrumento importante, que é o
repinique, eu acabava conduzindo as paradas com autonomia e dava até pra fazer sozinho, então acertei minha agenda, topei o convite e foi dando certo. O Carnaval de 2017 foi o melhor, pois envolveu muita gente e tocamos em dez eventos.

RC – Quais são as responsabilidades de um mestre de bateria? E os desafios?

S – Eu acho que a principal responsabilidade na hora da apresentação é conduzir sem confundir os ritmistas e transmitir confi ança para que todos consigam também tocar seu instrumento com convicção. Eu sou ritmista e faço questão disso, porque adoro tocar, se fosse só para ser mestre acho que não gostaria.

Em relação aos desafi os, acredito que ser criativo. Algumas pessoas têm mais facilidade, eu tenho difi culdade então acabo contando com a ajuda dos amigos. Mas acredito que, quando se gosta do que se faz, praticamente não há difi culdades, porque tudo se torna extremamente prazeroso.

Eu não faço nada sozinho, sou um associado como todos os outros, um percussionista e um ritmista, e, para todas as decisões ou mudanças que penso em implementar, peço a opinião do grupo e decidimos juntos. Temos na bateria pessoas importantes, inteligentes e experientes, que também sugerem as coisas, e somos muito democráticos, vamos dividindo e tentando acertar da melhor maneira possível para que seja bom para todo mundo. Tenho muito a agradecer a todos os participantes e à diretoria do Clube, pois, para tudo que pedimos, atendem com boa vontade, e aos colaboradores também, muita gente bacana que está sempre disposta a correr atrás das coisas com a gente.

RC – Quantos carnavais vocês já fi zeram? Quantas pessoas compõem hoje a Bateria?

S – Foram quatro carnavais. Eu não sei o número exato de pessoas na bateria porque acaba oscilando, mas já estamos em quase cinquenta pessoas. A procura para o último Carnaval aumentou bastante, agora para o próximo muita gente está interessada e estamos numa saia justa, porque na bateria deve haver um equilíbrio entre os instrumentos (pesados e pequenos), então temos que compor isso. Vou conversar com o pessoal para fazermos um remanejamento interno para que os que estão em instrumentos menores possam avançar para instrumentos mais importantes e assim tentar abrir uma inscrição nas vagas específicas para aqueles que estão disponíveis, o que é um pouco mais difícil, mas vamos tentar.

É uma vitória atrair tantos associados e juntos formarmos um grupo tão forte e unido, não é fácil montar uma bateria toda, em que todos se apresentem com disposição, boa vontade e engajamento, tudo isso só com associados.

RC – Para fazer parte da bateria é necessário saber tocar um instrumento?

S – Não é necessário, inclusive a grande maioria das pessoas não sabiam tocar nada e, quando entraram, nós fomos conduzindo; dividi em blocos, tanto no tipo de instrumento quanto no nível de aptidão da pessoa e observei quem tinha difi culdade e facilidade, trabalhando nas melhorias e colocando os toques de uma forma compatível com as limitações individuais, porque eu também me considero um iniciante nesse aspecto. Fomos utilizando esses recursos e as pessoas foram progredindo. Hoje estamos em um nível bem bacana, e, embora tenhamos algumas falhas, temos lapidado e alcançado um ótimo nível.

Ainda que seja uma diversão, por não ser um compromisso, temos um comprometimento com a alegria dos integrantes e dos associados, então existe uma responsabilidade, mas é algo bem leve e solto, o mais importante é todos se divertirem, serem felizes e proporcionar para os associados essa possibilidade de tocar em uma bateria.

RC – O que aprendeu ensinando?

S – A minha sensibilidade se apurou bastante, não sou necessariamente um professor e sim uma pessoa comum, mas acho que, com boa vontade, simpatia, alegria, temperança e perseverança, levamos as coisas muito longe. A única coisa que peço para os participantes é que treinem em casa, tenham essa iniciativa de aprender sozinhos, porque isso é muito importante. O resultado é muito positivo, a atmosfera do grupo é maravilhosa, as
pessoas são formidáveis. Além de estreitar amizade com pessoas que já conhecia, fi z novos amigos.

RC – O que não pode faltar em uma Bateria?

S – Não pode faltar alegria, entusiasmo e energia. É algo extremamente energético. Quando eu estou tocando com o grupo na frente e saio da posição e vou ao meio, entre os instrumentos pesados, me arrepio! É muita energia, um barulho forte que toca no coração. O talento e a técnica fazem parte, mas o mais importante é essa energia que vem de dentro pra fora, o Carnaval é isso.

Um ponto importante é o comprometimento, por conta dos ensaios e apresentações, então temos um grupo em um aplicativo de mensagens (que é muitíssimo útil porque nos organizamos por ali).

É importante, não só na bateria, mas em qualquer outra atividade, que quando a pessoa se compromete, com horário, objetivo, cumpra-os. Não assinamos nenhum contrato, mas estamos engajados e todo mundo colabora de alguma forma, uns com mais intensidade e outros no seu possível, mas sempre colaboram.

RC – O que o espírito carnavalesco tem de especial?

S – Eu, como tenho 54 anos e uma recordação muito grande dos carnavais de que participei desde a infância, gostaria que a juventude de hoje viesse para essa atmosfera da inocência carnavalesca. Lembro-me de gostar de “brincar” o Carnaval, colocar uma fantasia, porque todas as pessoas, de variados níveis sociais e intelectuais, acabam virando crianças nessa época do ano e isso se desvirtuou muito ao longo do tempo. Para mim, o que o Carnaval tem de mais especial é essa inocência carnavalesca, e a bateria é um aspecto fundamental, e é dessa maneira que estou tentando levar, de forma solta e alegre.

RC – O carnaval de salão está perdendo seu sucesso?

S – Hoje, os mais velhos nem sempre estão dispostos a sair para os bailes, e isso faz com que os bailes acabem se tornando mais uma festa ou balada qualquer, onde acabam tocando músicas de casas noturnas e perdendo-se o encantamento, até pela oferta midiática. Para o carnaval de salão ser resgatado, teríamos que ter uma mídia trabalhando em cima. Tínhamos o Silvio Santos, até a Xuxa fazendo música de Carnaval, era mais divulgado esse elemento de brincadeira, o que morreu um pouco. A diferença da nossa época pra agora eram marchinhas, aquelas músicas que tocavam só naqueles dias de Carnaval, então era algo tradicional, folclórico, só daquele dia, e hoje não tem mais isso. O Clube ainda consegue fazer alguma coisa em parceria também com a bateria, com o envolvimento do presidente, que é a Noite do Azul e Branco.

RC – Se algum associado quiser fazer parte da Bateria, o que precisa fazer?

S – Abriremos as inscrições no futuro, mas as vagas serão abertas de acordo com os instrumentos disponíveis.

RC – Deixe uma mensagem para a bateria.

S – Eu gostaria de agradecer a todos. Hoje nós somos uma grande família, somos campeões nessa harmonia, e eu espero que continuemos dessa forma enquanto houver bateria do Azul e Branco, sempre com positividade e amizade, que é o combustível que nos move!

Páginas Azuis – Revista Clube | Edição de junho de 2017

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