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LUTO

Informamos que o Dr. Claudio Antonio Soares Levada, presidente do Conselho de Administração do Clube Jundiaiense faleceu nesta manhã.

O velório será realizado nesta terça-feira, 7 de setembro, das 10h às 15h, na Sede Central do Clube Jundiaiense, à rua Onze de Junho, número 46, Centro de Jundiaí. O enterro ocorrerá no Cemitério Central Nossa Senhora do Desterro, também em Jundiaí.


A toda família e amigos, nossos sentimentos.

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Levada tornou-se um ícone, uma referência, para a cidade de Jundiaí. Nasceu em 1958 e formou-se bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, turma de 1980. Em 1983, foi nomeado juiz substituto para a 8ª Circunscrição Judiciária, com sede em Campinas. Passou também pelas Comarcas de Jundiaí, Jacupiranga, Jales e Barueri. Foi removido para o cargo de juiz substituto em 2º Grau em 1997 e, em 2005, tornou-se desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em março de 2020, foi eleito integrante do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo.

No clube, foi associado desde que nasceu. Por três vezes, foi eleito vice-presidente nas gestões de Edu Palhares (1990-1993 e 1995-1997) e na gestão do Getúlio Nogueira de Sá (2005-2007). Ingressou na Comissão Fiscal na administração de Luiz Roberto Raymundo, o Pitico (2003-2005), na qual atuou por quatro vezes. Foi também presidente do Conselho de Administração por duas vezes, entre os anos 1998 e 2002. Esta era sua terceira gestão.

Levada faz sua passagem aos 63 anos, deixando seis filhos (Filipi, Liliana, Fábio, Tatiana, Nicolas e Igor) e cinco netos. Seu pai foi um dos jundiaienses que investiram na compra do terreno da sede de campo.

Em 2020, Levada conceceu entrevista para a seção Prata da Casa, publicada na revista Clube e compartilhada aqui em sua homenagem.

Prata da casa

Cláudio Antônio Soares Levada nasceu associado ao Clube. Seu pai foi um dos 350 jundiaienses que investiu na compra do terreno da Sede de Campo. Aos 62 anos, é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e professor universitário, em ambas profissões há quase 40 anos. Recentemente, foi eleito presidente do Conselho Administrativo do CJ. Nesse bate-papo que aconteceu na Casa do Lago, Levada falou sobre suas funções à frente do Conselho, os desafios do CJ, as lembranças e a paixão pela pescaria.

Recentemente, o senhor foi eleito presidente do Conselho Administrativo. Para deixar claro ao leitor, quais são as funções e as responsabilidades do cargo?

Cláudio Levada – O Conselho tem a função de fiscalizar a diretoria e ser o órgão de reivindicação dos associados. Vamos imaginar que a diretoria puna um associado por 30 dias de suspensão. Se ele recorrer, é o Conselho que poderá absolver, dar uma pena menor ou manter a decisão da diretoria. É como se fosse o judiciário em segunda instância.

Por outro lado, ele age como o Legislativo também. Por exemplo, cabe ao Conselho alterações estatutárias e eleger a diretoria, o executivo.

Já o presidente do Conselho, para usar uma expressão do ministro Marco Aurélio Mello, é um “coordenador entre iguais”. O presidente coordena, mas não manda mais que outro conselheiro. Ele é um conselheiro como qualquer outro.

Em outros anos, o senhor já foi presidente e vice do Conselho. De lá para cá, o que mudou?

Levada – Questão de tecnologia. Fundamentalmente, quanto à finalidade das reuniões, à maneira de presidir e dirigir, é a mesma coisa. Eu me lembro que em outra ocasião tivemos a primeira mulher a ser secretária do Conselho. Foi a advogada Fábia do Prado. Agora, eu sucedi a primeira mulher, a Dilvia, nossa associada, no comando do Conselho. Considero uma coincidência feliz. Acho que precisamos de um número maior de mulheres [no Conselho] para que haja uma representatividade feminina maior. 

Cabe ao Conselho tomar decisões nesse sentido?

Levada – Sim, cabe. No momento em que você tem as eleições periódicas, acho que isso deve ser uma preocupação para que haja uma representatividade maior [de mulheres]. Em toda renovação dos quadros, devemos, sim, procurar trazer cada vez mais mulheres. 

Como presidente do Conselho, o que o senhor enxerga como os principais desafios do CJ nesse momento?

Levada – O maior desafio é a busca gradativa da normalidade. Nesse momento [início de novembro], temos um problema sério para decidir. Parece pouco, mas não é, porque envolve centenas de associados. É possível voltar com o futebol? Se pegarmos o plano São Paulo, regional, não é possível. O Decreto Municipal de Jundiaí deixa margem à interpretação. Estou procurando uma reunião com o nosso secretário de saúde, Tiago Teixeira, eventualmente com o próprio Luiz Fernando Machado [prefeito de Jundiaí] para sabermos o que fazer.

Temos 14 mil associados. O que o Clube fizer, tem que ser feito com muita cautela, muita prudência. O grande desafio nesse momento é o retorno gradativo à normalidade, sem questionamentos jurídicos, preservando em primeiríssimo lugar a saúde do associado. 

Como isso pode ser feito?

Levada – Desde que não haja uma segunda onda, como está acontecendo na Europa, acho que dá para pensar na diminuição das restrições e aumento da liberdade em relação às atividades aqui.

Existe também o desafio do planejamento. É inevitável que haja uma diminuição do número de associados e isso significa uma maior prudência e cuidado da diretoria na utilização do orçamento. Pode prejudicar obras, mas não pode prejudicar a manutenção.

Me parece também muito importante o estatuto. Eles envelhecem, toda a lei envelhece. A última vez que mudamos o estatuto foi há duas décadas. Uma adaptação à realidade que temos de rever é a faixa etária dos veteranos [veteranos são isentos da mensalidade]. Hoje, temos veteranos com 60 anos. Eu sou veterano, só que a média de idade do brasileiro subiu muito, é por volta de 77 anos. Na época que a idade dos veteranos foi fixada, a média não passava de 60-65 anos. Ou seja, é cada vez maior o número de veteranos, que implica cada vez mais gente não pagando. Temos de pensar em uma mudança gradual.

Seria se adaptar às novas realidades?

Levada – O Clube tem que pensar sempre em termos de realidade social, estar adaptado às mudanças na sociedade. Tudo tem de ser de acordo com as mudanças exigidas pelas novas gerações, sem deixar de oferecer o que as mais antigas querem.

Os bailes de aniversário são tradicionais, mas veja as festas da cerveja, do chopp, junina. Elas tiveram de mudar de formato. A bocha, por exemplo, não existe mais. Por quê? É um esporte cujo interesse praticamente terminou. Então, não há por que manter. “Ah, mas era tradicional.” Perfeito, mas chega um momento em que não tem mais ninguém praticando. 

O Clube não deve crescer de maneira desordenada, esse é um desafio constante e que as diretorias precisam estar atentas. O Conselheiro deve estar atento às novas reivindicações, das gerações que estão vindo, que é muito mais tecnológica, muito mais de games. 

A própria pandemia exigiu mudanças. O que ela ensinou para o CJ?

Levada – Acho que todos aprendemos como somos extremamente frágeis, e essa fragilidade precisa de proteções. Ninguém nunca imaginou que acontecesse algo parecido. Houve outras epidemias nacionais, como a gripe H1N1, mas nunca elas nos deram esse senso de fragilidade que a pandemia atual trouxe. 

É aquilo que falamos antes, a prudência, o respeito à saúde de todos, às diferenças entre os associados. Temos associados atletas, crianças, idosos com uma saúde mais debilitada. Temos de pensar em todos eles. A grande lição é pensar em termos de heterogeneidade. 

Como fazer isso e ainda lidar com o medo da pandemia?

Levada – Temos que respeitar os medos individuais, não vou criticar quem não sai de casa até hoje. Mas como trazê-lo de volta? Oferecendo atrativos, primeiro para ele continuar associado. Isso é algo fundamental, se não ele vai falar: “passei sete meses em casa e o Clube não me fez falta, então por que vou continuar pagando mensalidade lá?”.

Agora, pensa nos carnavais. Antes, chegavam a ter cinco noites de Carnaval. Era outra época, essas coisas mudam. Como você vai imaginar cinco noites de Carnaval principalmente depois da pandemia? Faz sentido fazer algum baile de Carnaval agora? Não faz. Faz sentido fazer Baile do Havaí? Não faz. Se tiver algo, terá de ser totalmente diferente. Temos certeza de que, em fevereiro, tudo estará resolvido? A pandemia terá acabado de uma hora para outra? Não.

Então, a solução seria promover novos atrativos em um ambiente seguro?

Levada – Perfeito. Ambiente seguro em primeiríssimo lugar. E que tipo de atrativo? Eu penso muito em atividades culturais. Não é uma crítica, é uma constatação. O Clube nunca deu muita importância a atividades culturais. 

Eu acho que poderia e deveria dar mais importância agora. Seriam atividades com menos gente, mais pontuais e que podem fazer aquela pessoa, que ficou em casa e pode não estar vendo muito motivo para continuar associado, falar: “peraí, agora tem peça de teatro, um recital, um sarau de declamação de poesia”, qualquer coisa do gênero.

No lazer, eu acho que o Clube sempre foi nota 10. Em relação à cultura, nota 5, e olha lá. Acho que isso é algo a ser explorado. Temos espaço, condições, estrutura. Dá para fazer muita coisa. No salão social, por que não utilizá-lo também em atividades culturais? Espaço não falta. 

Tem de diversificar. Eu falo de atividades culturais como uma das ideias. Acho que tem de ser diversificado. Campeonato de pesca, por exemplo. Jogos sempre teve, mas podemos ter mais em vez de um por ano. Mas, veja, é uma questão de parar e pensar. A partir do final deste anos e início do próximo, tem de haver uma diversificação de atividades e oferta de atividades que, talvez, nunca tenhamos oferecido antes.

Dá para ver que o senhor faz parte do “time” que sentiu falta do CJ, né?

Levada – Sim, o que senti mais falta foi da churrasqueira. Tenho primos que gostam de se reunir e fazer churrasco juntos, amigos, família. São os aspectos sociais de interação social. 

Mais antigamente, eu teria sentido falta do esporte. Eu joguei tênis também, mal, para variar. Nunca fui um grande atleta. Aliás, tenho uma história sobre isso. Eu tinha uns 15 anos, gostava de jogar no centro porque lá tinha uma quadra de tênis. A bola caiu no telhado de zinco e fui buscá-la. Eu tentei pisar certo, mas pisei errado. Quebrei a telha e caí de uns quatro metros de altura. Não sei como, caí em pé. Não me quebrei. Aí ganhei o apelido de astronauta. Fiquei vários anos com esse apelido, porque eu voei lá de cima. 

Foi na época em que o senhor começava a conhecer o CJ?

Levada – Eu não conheci, nasci associado. Meu pai é um dos 350 jundiaienses que compraram o terreno da Sede de Campo. Então, eu nasci associado. 

Aqui na Sede de Campo não tinha quase nada. A gente ia lá no centro. As primeiras lembranças que tenho como associado são na piscina da Sede Central e pescando aqui, com uns 5 ou 7 anos de idade. Eu vinha com meu avô materno, que gostava de pescar. 

Depois veio a época de namoro. Minha primeira esposa eu conheci aqui, ela é muito minha amiga até hoje. Conheci em uma brincadeira dançante, bem na época da adolescência. 

Tinha muitos shows também, eu me lembro do Ricky Shayne, que cantava uma música muito famosa na voz do BJ Thomas, a “Mamy Blue”. Lembro também quando tivemos festivais de música, com famosos da MPB, como Elis Regina, Vinícius de Moraes, Toquinho. 

O que o senhor sente mais falta dessa época?

Levada – Sinto falta da juventude, dessa interação, dos anos e anos que joguei futebol aqui. Sinto falta dos bailes. Mas é uma falta boa. Não é olhar para trás com uma nostalgia entristecida, porque eu acho que uma coisa é você olhar para trás e falar “eu poderia ter vivido”. Eu olho para trás e penso: “eu vivi!”. Tenho uma nostalgia de bons momentos. Joguei futebol até uns 40 ou 42 anos, aí o joelho não deu mais. 

O que restou? Restaram os churrascos. Claro que eu precisava fazer academia, quem sabe um dia eu vou lá e faço. Ainda tem muita coisa que o Clube pode me servir, e eu para o Clube, como tentar ajudar no Conselho. É isso o que eu posso oferecer: a minha experiência. 

Experiência que tem como um dos pilares o Direito, certo? 

Levada – Eu tive influência do meu pai, que fez o curso de Direito com uma certa idade. Ele era contador, se graduou bacharel em Direito, chegou a advogar. No momento em que ele se formava, por volta dos 42 anos, eu tinha 17. Posso dizer que isso serviu de alento, de exemplo para eu seguir a mesma área. 

O senhor é desembargador e professor universitário. Como começou essa história?

Levada – Na advocacia eu comecei como estagiário. Quando você resolve que vai viver daquilo, que vai realmente seguir carreira, a advocacia foi o que me surgiu primeiro como mais fácil. Mas quando comecei a estagiar justamente na área contenciosa, que é a área dos processos, dos litígios, eu me interessei em relação à magistratura. Comecei a achar muito interessante a ideia de julgar, me senti vocacionado para isso. Então, cinoc anos após ter iniciado como estagiário na advocacia, eu prestei concurso. Eu sou de carreira, prestei concurso, sou juiz desde março de 1983.

Isso é o que o senhor faz nas horas de trabalho. E fora delas?

Levada – O meu maior hobbie é pescar. Minha atividade hoje é puramente intelectual. Cansa, como qualquer outra atividade, mas chega uma hora que você fala: “bom, você tem que parar e fazer alguma coisa em que não pensa em mais nada”. Pescar, para mim, faz esse bem. Eu gosto. Vou para o Pantanal, para o Amazonas, no Rio Paraná aqui na divisa de São Paulo. Cada um desses lugares tem peixes diferentes, que são distrações diferentes.

Pescador tem boas histórias, né?

Levada – Uma vez eu vi passar do meu lado, a cinco ou seis metros, um pequeno tornado de água [tromba d’água]. Se tivesse passado onde eu estava seria o fim. Tem histórias de peixe também, que os maiores sempre fugiram. Você nunca pega o maior, mas dessa vez eu peguei. Acabei de voltar com um peixe de 13,5 quilos. 

O maior que pesquei foi no Amazonas, no Rio Aripuanã, peguei um Filhote de 20 kg. Até 45 kgs se chama filhote, depois muda o nome para Piraíba, o maior peixe do Brasil. É chamado de tubarão de água doce, embora não seja feroz.

Eu voltei agora do Pantanal, vocês se lembram dos dias que chegaram aos 40°C? Quando estava em casa, ouvi no rádio que a cidade mais quente do Brasil foi Água Clara, no Mato Grosso do Sul, chegou a 44,6°C. Eu estava lá. Almoçamos em um restaurante de beira de estrada, ali tinha ar-condicionado, porque se não tivesse, parecia o Saara.

O senhor tem uma lembrança especial aqui no CJ?

Levada – Uma data que marcou muito foi quando o Clube fez 50 anos, tivemos um baile de aniversário. Aquela noite foi lindíssima, contou com praticamente todos os ex-presidentes.

E para o futuro do Clube, o que esperar?

Levada – Tenho filhos de 38 até 7 anos, que são de dois casamentos. Eu espero que meu filho de 7 anos, daqui 75 anos, ainda frequente o Clube. Não vejo os clubes como algo dispensável. Para que não se tornem obsoletos, é importante que acompanhem cada mudança geracional. Cada geração tem seus objetivos, anseios, desejos próprios. Isso tem que ser muito bem monitorado. Assim, o Clube sempre estará de acordo com o tempo vivido, com o tempo específico, e aí sobrevive. Como dizia o falecido Belchior, “o novo sempre vem”. Então, não adianta falar “a minha época era melhor”. A minha época é hoje, minha época é amanhã, enquanto estiver vivo é minha época.

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